terça-feira, 21 de abril de 2009

Entrevista

UM NOVO ESPAÇO PROFISSIONAL

Entrevista: Fernanda Rocha
Texto: Profª Adriana Rodrigues

A linguagem descritiva e narrativa próxima do coloquial, a instantaneidade, a agilidade e o fácil acesso, são características que historicamente acompanham o rádio e permitem que esse meio e comunicação esteja presente em variadas situações da vida dos ouvintes.
Nesse ambiente, em que a imaginação dá vida às informações trazidas pelas ondas sonoras ou meios digitais está o radiojornalista, profissional que aprendeu a lidar com uma realidade de produção, e atualmente está em fase de adaptação tecnológica com a migração do rádio para a internet. O ciberespaço abriu a possibilidade para a convergência dos meios de comunicação, no entanto, os profissionais que se aventuram no rádio web jornalismo buscam ajustar a linguagem do rádio convencional para a internet. Diante dessa situação é questionada a necessidade de formação especial para profissionais que pretendem atuar com rádio web jornalismo.
Para o Prof. Dr. Robson Bastos da Universidade de Taubaté, o meio acadêmico ainda está se adaptando as mudanças, da mesma forma como aconteceu com as demais tecnologias. Segundo ele, a informação continua a mesma, são necessárias mais atividades voltadas para tecnologia que favoreçam a adaptação ao ciberespaço.
“Ninguém tinha pensado na internet, as mídias estão criando novos formatos de jornalismo” afirma o Prof. Dr. Robson Bastos. Se a internet está modificando o jornalismo, a quem o jornalismo web destina-se?

REVISTA GRUPPEM: Com a rádio na internet, a programação é diferente do rádio no aparelho ou não?

PROFº ROBSON BASTOS: Ela é diferente, a novidade é que primeiro a gente não sabe qual é a linguagem. A internet está assimilando ou realmente modificando alguns meios e um deles é o rádio. Um exemplo é a Rádio Jovem Pan que eles dizem que é o rádio com imagem, mas o rádio é som. É rádio com imagem lembra a história da TV lá nos anos 50, que era dito que a TV era o rádio com imagens. Agora quase a sessenta anos nós retornamos a essa história , o que nós estamos vendo hoje é uma transição da linguagem do rádio para a internet, e a internet como uma novo meio, uma nova mídia, ela está modificando por exemplo, a TV, o jornal impresso, a revista. Por que quando um veiculo vai pra lá, ou ele vai igual que é o impresso, ou ele é modificado, e o rádio por ter a questão da sonoridade, não adianta colocar apenas para ouvir, tem gente que só que ouvir. E outra novidade da internet, é que tem rádio que só existem lá. Aí vem a facilidade do canal pegar em qualquer lugar do mundo, e a facilidade legal, por que para ter uma radio ou uma TV, é preciso ter uma concessão. Na internet não, qualquer pessoa liga, cria e coloca o que quer, mas tem uma contrapartida, que a gente chama de responsabilidade. Então a rádio na internet e o mundo da web é uma novidade que a gente está aprendendo cada momento também, mas não sabemos onde vai dar, eu não tenho a mínima noção e os teóricos muito menos, mas é algo que tem que ser acompanhado. Aqui no Brasil tem a Jovem Pan, a Rádio CBN, também fez algumas experiências, não sei se eles continuam eles colocam uma câmera dentro do estúdio, é o radio com imagens. Eu lembro que uma vez, num dos programas o Heródoto Barbeiro tinha brincado; ‘olha hoje eu tenho que vir bem vestido, tenho que estar bonito para que as pessoas me vejam’. E o rádio nunca teve essa preocupação, bonito, entre aspas, era a voz, era a entonação também. A internet está mudando, agora se vai ser melhor, nós não sabemos, se a linguagem vai modificar, ninguém sabe. Mas é algo que tem que acompanhar e refletir, e é esse papel que vocês estão fazendo, importante pra todos nós.

REVISTA GRUPPEM: Então a internet está tirando alguns valores do jornalismo que vem sendo pregados a décadas?

PROFº ROBSON BASTOS: Não é tirando valores mas empregando outros. Agora aparecem uns perigos, um desses é a questão da apuração, você coloca algo na internet e ninguém vê. Há um filtro com um jornalista comandando tudo, na internet você não tem. Você pode criar seu blog, você pode criar sua rádio, você pode criar seu jornal e jogar lá, e não há censura para impedir, devem ver na verdade o outro lado, nós receptores, nós como consumidores devemos saber o que a gente lê. E não podem confiar 100% naquilo que está lá também. É uma questão, vocês hoje como alunos, amanhã como profissionais de analisar – Será que é verdade essa matéria? Será que esse fato existiu? Será que essa noticia nesse blog é confiável? Será que não é? Então a gente só pode fazer isso para evitar. Então eu não diria que está mudando essas questões tradicionais do jornalismo, por que o é jornalismo na internet é igual o que é fora. A diferença é que tem menores componentes também. Ninguém pensava que com a televisão, podia fazer telejornalismo. Ela mostrou que isso podia ser feito, e o rádio já existia. Então hoje, o jornalismo hoje na internet é possível? É possível, ninguém tinha pensado na internet, as mídias estão criando novos formatos de jornalismo, o suporte é indiferente se é papel, se é auditivo, se é digital, se é em película, isso é diferente, mas o conteúdo jornalístico, esse não muda.

REVISTA GRUPPEM: E o público da rádio web, ela é diferente ou não?

PROFº ROBSON BASTOS: Ele é diferente, tudo indica que são jovens, são pessoas que gostam da internet também, e a vantagem é que, antes o publico era restrito, então era preciso morar naquela cidade, morar naquele bairro, naquele local. Hoje você pode morar no Japão e ouvir, você pode morar na Arábia Saudita e ouvir também. É um publico diferente, o que a gente imagina é que o publico vai estar próximo, pela idade, pela faixa etária, ou pelo interesse também, ou pela questão da língua. Se eu falar português o meu publico vai ser mais restrito se eu falar inglês ou chinês, então a restrição em comparação a rádio antiga, que eu tinha que estar ali próximo para eu ouvir.

REVISTA GRUPPEM: Então essa restrição vai fazer com que o rádio perca credibilidade perante a rádio web ou não?

PROFº ROBSON BASTOS: Não, não sei. Eu acho que talvez. Isso é um indicativo, uma mera especulação. As rádios que tiverem credibilidade são as rádios mais sérias. E para serem mais sérias elas tem que ter o compromisso com a sociedade também. Então, por exemplo, uma dica hoje, são rádios tradicionais no veiculo radio que se migrarem ou se já migraram para a internet, é o caso da Jovem na, da CBN. Agora ás rádios que estão somente na web e não estão aqui fora, elas vão ter que demorar um tempo para terem credibilidade também. Por exemplo, se a rádio é feita por um jornalista. Tem o blog do Noblat, um jornalista que foi do Correio Braziliense, teve toda uma tradição no jornalismo tradicional, hoje ele vive desse blog, ele vive na internet, se eu ver ‘web Noblat’, eu seui que é algo de credibilidade. Eu sei que o que ele vai colocar lá é algo sério também. Então esse é um dos parâmetros pra gente tentar compreender, agora como será daqui pra frente eu não sei. Mas um dos parâmetros do jornalismo é credibilidade, é a verdade que a gente busca.

REVISTA GRUPPEM: Então o senhor não crê que mesmo com o advento da internet, que o jornalismo no rádio não há de acabar?

PROFº ROBSON BASTOS: Não, nunca vai acabar, o jornalismo nunca vai acabar, ele vai mudando, vai se aprimorando, ele vai na verdade, trabalhando em outros sentidos. Agora não quer dizer que as pessoas possam errar, possam cometer erros, falhas, são humanas também. Mas o jornalismo não vai acabar ele vai se modificar de acordo com as mídias, daqui a pouco não vai ser mais essa internet, pode ser a super internet, internet w, mas o jornalismo vai estar presente em si. Sempre vai estar, a sociedade precisa disso.
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