Fernanda Rocha conversou com o repórter Agostinho Teixeira, que atua há 13 anos na Rádio Bandeirantes de São Paulo e é um dos participantes do Núcleo Investigativo da Band. Nesta entrevista o jornalista fala do seu início no jornalismo investigativo. Também dá dicas para quem quer se aventurar no instigante mundo das reportagens de denúncia. Diz que é preciso ler e se informar, e não apenas sobre assuntos de grande importância. É preciso olhar em volta, estar atento, já que hoje em dia, passamos diariamente pelo mesmo local e não percebemos que ele muda. “É assim que começa, pense, crie, duvide do que lhe é apresentado.” Agostinho fala também da sua motivação em continuar trabalhando: “Não é o dinheiro que faz um jornalista investigativo, mas sim o prazer e a vontade de levar a verdade para as pessoas”
REVISTA GRUPPEM: Você decidiu pelo jornalismo investigativo na faculdade ou foi se moldado com o passar dos anos?AGOSTINHO TEIXEIRA: Na verdade foi por acaso. Eu não tinha noção do que era esse jornalismo investigativo. Comecei em rádio já no primeiro ano de faculdade e comecei a fazer o que todo mundo faz, que era checagem, atender telefone de ouvintes, as coisas básicas dentro de uma redação. Até que um belo dia, já como repórter surgiu uma reportagem do tipo, onde eu estava de plantão, sem ter o que fazer.
REVISTA GRUPPEM: E qual reportagem era essa?AGOSTINHO TEIXEIRA: Era de um cassino que funcionava no Morumbi (São Paulo), a pessoa ligou denunciando o lugar e queria que ele fosse fechado e nós fomos até lá, eu um outro colega. E a partir daí eu tomei gosto por esse tipo de reportagem, que aconteceu por acaso e depois eu não parei mais.
O que acontece é que você investe tempo e dedicação em algumas reportagens que você está convicto que vai dar certo e por algum motivo não funciona. Isso acontece, você não consegue confirma uma denúncia que parecia ser tão clara, tão fácil. E tem outras que você aposta que não vai conseguir confirmar, por que é muito trabalhoso, e dá certo.Tem uma recente, que se você pensar na conseqüência que ela teve, ela foi frustrante. Mas a execução dela foi de muito prazer, foi uma que foi de um vereador de São Paulo que tinha construída uma mansão que não foi declarada para a Justiça no ano eleitoral. E era uma grana que nunca tinha como provar. Lógico que a Câmara Municipal arquivou a denúncia. Não há como imaginar que a Câmara não fosse fazer outra coisa do que arquivar o processo. Mas só a veiculação dela e a reação que o ouvinte teve ao saber como estava sendo tratado o dinheiro público. Isso me deu muito prazer, foi algo que me deu muito retorno, mandaram muitas mensagens. Então apesar do resultado não ter sido o que esperava que era uma apuração séria. O fato de veicular e ter essa reação do público me deu muito prazer.
REVISTA GRUPPEM: E em uma dessas reportagens teve alguém que quis te comprar para não ser denunciado?AGOSTINHO TEIXEIRA: Teve alguns casos. Quando a pessoa ameaça fazer a proposta eu já adianto que é melhor nem fazê-la, por que se não a coisa complica. Eu acho que é assim, tem que evitar que o jornalista vire personagem da história. No caso como esse, se eu faço a denúncia e a pessoa vem querer me comprar, eu viro personagem da história. E essa passa a ser a história principal, a compra do repórter. Então eu não gosto disso, eu tento evitar. Joguem várias tentativas, que eu de pronto nem deixasse que continuasse a proposta.
Quem se dedica não somente ao jornalismo investigativo, mas qualquer tipo de jornalismo tem que tirar da cabeça que vai ganhar um bom salário, um que compense a dedicação que você tem que ter, as horas a mais que você tem que trabalhar. Isso acontece, muito raramente é a exceção, da exceção, da exceção, que consegue ser pago na medida do esforço. O prazer tem que ser outro, tem que ser pelo jornalismo e se eventualmente você conseguir um salário melhor, uma condição melhor está ótimo, se não, você já está feliz por fazer aquilo que gosta.
REVISTA GRUPPEM: Que dicas você dá para o aluno que quer seguir nesse ramo do jornalismo?AGOSTINHO TEIXEIRA: Como eu falei aqui, eu não acho o jornalista investigativo uma pessoa diferenciada, tem que gostar, por que de fato, realmente dá trabalho. Você não tem horário certo, mas se você está a fim, se você acha que pode, vale a pena tentar, o começo tem que ter disposição. O erro é inevitável, você vai aprender muito com ele, o que você tem que fazer é estar muito atento, muito preparado, você vai ter que notar tudo o que acontece, para quando você abordar a pessoa que ai ser denunciada, é preciso estar armados até os dentes. Você tem que saber daquele assunto, para a pessoa não te dar um nó. Por que o pior que pode acontecer é você planejar alguma coisa e no final das contas você chega no cara e ele fala – ‘ah, mas não é isso, você está mal informado...’ – Você ouvir que está mal informado é a morte, você não sabe o que está falando, é a pior coisa que pode acontecer. Então tem que se preparar. E são coisas básicas, ler muito, estudar muito, ouvir todo mundo, estar atento ao que acontece no mundo, mas não só o que acontece no Estados Unidos ou na Europa, mas o que acontece na tua esquina. Observa a tua esquina, coisas que acontecem, creio que você vai descobrir coisas interessantes que merecem uma reportagem.
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